Estudo
Bíblico: Autoajuda versus Ajuda do Alto
O movimento da autoajuda proclama que você tem em seu interior todos os
recursos de que precisa para obter sucesso, a concretização de seus objetivos,
felicidade e qualquer outra coisa necessária para desfrutar uma vida completa.
Apesar de sua ênfase no
desenvolvimento da personalidade e dos poderes mentais, o objetivo da autoajuda
é a solução de problemas, o progresso social e o bem-estar pessoal em termos
pragmáticos, como mandar os filhos para a universidade que eles escolherem ou
levar a família em férias para lugares fascinantes, a fim de que se encontre a
paz de espírito que acompanha a realização.
A literatura da autoajuda
trata de manuais e textos práticos, com narrativas em primeira pessoa nas quais
o, sujeito relata a descoberta de suas forças mais íntimas e a maneira como as
empregou para alcançar seu sucesso. Nomes como Dale Carnegie, Norman Vincent
Peale, Leo Buscaglia, Napoleon Hill, Zig Ziglar, Deepak Chopra, Lair Ribeiro,
Lauro Trevisan, Roberto Shinyashiki, Og Mandino em "A Universidade do
Sucesso", "O maior vendedor do mundo" e o ex-colega
de espiritismo de Francisco Xavier, Dr. Waldo Vieira com seus "Panorama
de experiências fora do corpo" e "700 experimentos da
conscienciologia", estes últimos, voltados ao desenvolvimento de
poderes "parapsíquicos", são presença garantida nas
prateleiras de todas as livrarias, responsáveis pelo maior fenômeno editorial
desta segunda metade do século.
Evidentemente, existe um
benefício neste constante chamamento à responsabilidade pessoal para construir
o futuro: a afirmação das potencialidades do ser humano, enquanto criado à
imagem e semelhança de Deus, e o estímulo em busca de mais. Mas, sem dúvida,
esta ênfase humanista egocêntrica é um câncer que corrói não apenas a
sociedade, como também conspira contra os valores e o conteúdo próprio do evangelho.
Diante deste fenômeno que está
na boca do povo, nas cabeceiras de milhares de pessoas e nas histórias de
sucesso reproduzidas em larga escala, como cristãos devemos aproveitar a
extraordinária oportunidade de afirmar a proposta cristã. É hora de declarar
que a grande necessidade do ser humano não é aperfeiçoamento, mas transformação
e, quiçá, substituição. O Evangelho não propõe técnicas de controle mental,
mecanismos de autossugestão, programação neurolinguística ou artifícios de
influência pessoal. O Evangelho não proclama um homem desenvolvido, mas um homem
novo, uma nova criatura em Cristo Jesus.
Devemos afirmar que o ser
humano jamais conseguirá transformar-se na medida completa do propósito de
Deus.
Evidentemente, o êxito pessoal
implica disciplina, esforço, força de vontade, domínio de técnicas e autodesenvolvimento.
Paulo, apóstolo, estimula os cristãos à responsabilidade pessoal quando os
compara ao atleta, ao soldado e ao agricultor. Mas o fato é que existe uma
dimensão da vida somente acessível para aqueles que, além das possibilidades da
autoajuda, descansam na promessa e na realidade da ajuda do alto, pois "as
coisas que o olho não viu, o ouvido não ouviu, nem jamais penetrou no coração
humano são as que Deus tem preparado para aqueles que o amam".
Vemos nos livros de I e II
Reis, exemplos bem claros de quando o homem foi severamente castigado por
recorrer às soluções humanas quando devia ter buscado a Deus. Um caso típico é
o de Elias enfrentando os soldados de Acazias, por haver Deus, por intermédio
dele impedido a ida dos servos do rei Acazias a consultar Baal-Zebub (ou
Belzebu, de acordo com a tradução bíblica) e dizendo-lhe que morreria por consequência
de sua enfermidade.
Deve ficar claro que o caminho
cristão para o sucesso não é a afirmação da força e do poder do homem, mas sim
de sua fraqueza e rendição ao poder de Deus. O Evangelho propõe que se troque a
autoajuda pela ajuda do alto.
Aquele que assim faz, sabe que
o poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza humana. Não uma fraqueza moral, como
quem foge dos desafios que o direito de viver impõe, mas o reconhecimento das
limitações inerentes a tudo quanto não é divino. Aquele que se rende à força de
Deus pode afirmar: "Quando sou fraco é que sou forte", e
juntar-se aos heróis fracos que, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram
a justiça, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam
ao fio da espada, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de
estrangeiros, foram torturados e não aceitaram resgate, passaram' pela prova de
escárnio e açoites, de algemas e prisões, foram apedrejados, serrados ao meio,
andaram peregrinos, maltratados, necessitados e afligidos, e, ao final,
receberam de Deus o epitáfio: "Homens dos quais o mundo não era
digno."
Autor: Pr René Kivitz Pastor da Igreja
Batista em Água Branca, São Paulo, SP