Esquizóide

A principal característica do
esquizóide é o facto de ser muito mental. Refira-se que o carácter esquizóide é
pré-genital, pois a fractura pode ocorrer muito cedo. Na biossíntese afirmamos
que esta fractura pode ocorrer ainda no útero, sendo que, por vezes, os bebés
sentem-se tão bem dentro da sua mãe que podem nascer depois do tempo normal de
gestação. Esta necessidade de permanecer no conforto do útero pode revelar que estes
bebés não querem nascer porque o ambiente cá fora é frio.
A fractura mais primitiva pode ocorrer
nos primeiros três meses de gravidez. Nesta fase da gravidez, a fase
endodérmica, uma situação de trauma faz com que o bebé, numa atitude defensiva,
leve a energia para outro lado, neste caso, para onde, posteriormente se vai
desenvolver a cabeça (neste momento leva a energia para onde não existe nada; o
cérebro ainda não se desenvolveu). Mas o bebé pode levar a energia para a
cabeça noutros momentos da gravidez.
No entanto, relembramos que, para
Lowen, as fracturas só ocorrem após o nascimento, facto que ele reflecte na sua
obra: “Não há nenhuma consideração teórica que nos obrigue a colocar a mais
precoce etiologia da condição esquizofrénica no período pré-natal. A privação
do amor materno não é uma experiência que, até ao momento, possa ser
identificada como ocorrendo anteriormente ao nascimento da criança.” (Lowen,
1977: 334).
Seja como for, estes bebés acabam
por crescer num meio frio, distante e com falta de contacto (idem, 333). Em
casos mais extremos, a criança cresce com um terror profundo, medo de
perseguição e da violência física (idem, 335). Desta forma, desenvolvem
tendencialmente uma respiração quase inexistente para se tornarem
transparentes, pois não gostam de ser olhados. As suas emoções tendem a ser
ridicularizadas na infância e a mãe do esquizóide adopta uma postura de
afastamento. Muitas vezes esta é uma mãe com um ajuste de vida muito rígido e é
capaz de lidar com tudo desde que não haja muito stress sobre ela.
Quando a criança se expressa ou
age de forma autónoma, esta mãe fica aterrorizada, como se fosse perder o
controlo, tendo uma resposta exagerada. O pai do esquizóide, tendencialmente,
tem receio do terror demonstrado pela mãe do seu filho pois isso faria com que
ele a tenha de ajudar, controlar e relacionar-se com ela de modo a satisfazer
as suas necessidades. Este pai pode ser retraído e distante ou ter uma
personalidade semelhante à mãe, de rigidez. De facto, a inteligência emocional
destes pais é pequena.
O traço positivo do esquizóide é
ser brilhante, é o génio, é um ser criativo e é muito observador. Eles
conseguem ser criativos de modo construtivo (idem, 323). Têm também uma grande
capacidade para as sensações espirituais, para a ternura e simpatia, no
entanto, têm dificuldades em focalizar estes aspectos em objectos do mundo real.
Fisicamente têm muitas tensões no
pescoço (corte entre o pensar e o agir - cabeça - coluna) e procuram espaços
pequenos para se aninharem, para voltarem ao útero, onde estavam confortáveis.
Têm tendência para problemas de pele, tumores na cabeça e para falarem
baixinho. Não aguentam catarses, bioenergética ou até mesmo o toque ou o olhar
nos olhos.
Refira-se que para o esquizóide a
relação com o seu corpo é diferente do que nos outros caracteres. Para ele, o
corpo é usado como usa o seu automóvel (idem, 324). Ele não tem a sensação de
que é o seu corpo. Esta sensação pode ser visível: a sua cabeça não parece
estar presa com firmeza ao pescoço, os braços estão soltos como se estivessem
enfraquecidos e há uma notória falta de contacto entre as pernas e o solo, que
é reflexo de pés fracos.
Em suma, as principais
fragmentações do carácter esquizóide ocorrem na separação entre a cabeça e o
corpo; na cisão do corpo em duas partes distintas a partir do diafragma; na
desunião entre o tronco e a pélvis e a dissociação das extremidades.
Vínculo
O vínculo é difícil para um
carácter que se diz ter um distúrbio afectivo grave (Lowen; 1977: 322) e onde
as emoções são geralmente inadequadas.
Apesar de ser possível para o
esquizóide centrar os seus sentimentos mais ternos, por um breve período,
noutra pessoa, a tensão originada pela tentativa de manutenção do contacto
provocará uma ruptura (idem, 324). Caracterizados como frios, para um esquizóide,
“o degelo pode provocar uma inundação que extravasará o leito do rio” (idem,
335). Refira-se ainda assim que o que congelou não foi o seu coração, mas sim
os seus músculos. Apesar de odiar inconscientemente a sua mãe, o esquizóide não
é uma pessoa fria e odiosa. O seu ódio não lhe envolve o coração.
A nível da terapia, refira-se
que, se existir um bom contacto com o paciente, é possível um progresso muito
grande com base no facto do esquizóide ter poucos mecanismos de defesa do ego e
também na sua vontade de resolver problemas. Apesar de este carácter ter olhos
distantes, indicativos da sua falta de contacto com a realidade, Lowen refere
que na terapia, os olhos do esquizóide procuram os olhos do terapeuta,
desejando que o contacto de estabeleça (idem, 328).
Imagem: http://nodoascendente.blogspot.pt/
Texto de Ana Caeiro
Referências:
- LOWEN, Alexander (1977); “O Corpo em Terapia, a abordagem bioenergética”; Summus Editorial; 11ª Edição; São Paulo