Parece estranho que em pleno século 21 existem
pessoas que acham que fazer terapia é coisa pra gente doida. O preconceito é grande mesmo
entre pessoas aparentemente esclarecidas. Mas o que significa “fazer terapia”,
afinal? Para que serve?
Em primeiro lugar, é preciso esclarecer e entender
que o processo terapêutico proporciona o encontro, a descoberta com o mais
valioso que podemos ter, porque trata-se de um encontro com o mais íntimo da nossa
essência.
Fazer terapia é encontrar sua “caixinha”
Quando nascemos, sempre faço esta analogia, trazemos
conosco uma caixinha e no centro dessa caixinha tem um ponto que é a nossa
essência. Desde bebês e ao longo da nossa existência, essa caixinha vai sendo
preenchida com crenças e valores dos pais ou responsáveis por nós, como crenças
e valores religiosos, e ainda por valores sociais.
Tudo o que nos cerca e vivenciamos, vai se tornando
referência para nossas ações: como é um casamento, como os adultos se
comportam, o que deve ter importância, como devemos lidar com finanças, com nossos
vizinhos e assim por diante.
Acontece que, quando nos tornamos adultos e mesmo
na adolescência, muito do que aprendemos não reverbera dentro de nós e nos
sentimos desconfortáveis agindo de acordo com o que vimos e aprendemos.
Se tivemos pais ciumentos, por exemplo, tendemos a
acreditar que a manifestação do amor se dá por meio do ciúme. Se cresci num
ambiente onde as pessoas ditas extremamente realizadas na vida, não se importavam
com ética, vou tender a acreditar que ser ético não é um bom caminho para eu
conquistar meu lugar ao sol, e assim por diante.
Mas, muitas vezes, não ficamos confortáveis
reproduzindo o comportamento de nossos pais ou seguindo as regras que
aprendemos – e não sabemos como fazer diferente. Isso gera angústia e, algumas
vezes, um sentimento de deslealdade para com a família, afinal, eles são nossa
referência de como viver.
E se essas referências estão na minha caixinha e se
a caixinha é minha, provavelmente eu sou tudo o que está dentro dela, certo?
Não. Não necessariamente está certo.
Quando alguém procura fazer terapia?
Ninguém tem obrigação de saber como sair das
ciladas que a vida nos apresenta. Por isso, existem terapeutas, psicólogos,
pessoas que estudaram o comportamento humano e estão capacitadas a nos ajudar a
identificar e a identificar saídas nosso inconsciente.
Onde estão
nossas dificuldades? Não é possível transformar o que não conhecemos, e o
processo terapêutico vai nos ajudar a conhecermos a nós mesmos.
Desapegue-se
para mudar
Quando iniciamos um processo terapêutico, além das
sessões de apoio para a questão mais urgente que é a que nos leva a buscar ajuda,
vamos começar a identificar o que está dentro da caixinha que realmente
pertence a nós e aquilo que aprendemos mas não reconhecemos como nosso.
O processo envolve várias etapas, e o desapego é
uma das principais. Desapegar-se de conceitos e valores tão arraigados é
trabalhoso, ainda que esses valores apreendidos desemboquem sempre no mesmo
resultado:
- “minhas conversas sempre terminam
em discussão”
- “meus relacionamentos são
todos muito parecidos”
- “no trabalho sempre tem
alguém querendo puxar meu tapete”
- “nunca ninguém entende o que
eu falo”
- “eu tenho o dedo fraco, só
escolho parceiros ciumentos”
E, assim
por diante, sem ter uma reflexão mais profunda sobre por que os eventos da vida
dão voltas e sempre acabam no mesmo cenário.
A terapia
ajuda a compreender os motivos pelos quais vivemos como vivemos, fazemos nossas
escolhas dessa ou daquela forma ou porque estamos sempre diante de problemas que
teimam ser tão recorrentes.
Ninguém
pode transformar aquilo que não conhece.
Como posso mudar então ou ser uma pessoa melhor se
não sei porque sou de um jeito que não gosto de ser? Ou se desconheço minhas
razões?
Fazer
terapia é a busca por encontrar quem realmente somos, e resolver esses
conflitos.
No processo terapêutico, aprendemos a nos fazer as
perguntas certas e a encontrar nossas respostas, aquelas que vão nos permitir
chegar mais perto de quem verdadeiramente somos e, assim, transformarmos nossas
vidas.
São várias as correntes terapêuticas e cada uma
delas se identifica com aquela que fala melhor ao próprio coração. O que
importa realmente é esse encontro com nossa essência. É esse despertar da
consciência que nos conduz ao conforto de sermos quem de fato somos.
Pense com carinho em estabelecer essa meta do
autoconhecimento para este ano de 2020. E lembre-se: Quanto mais cedo começamos
essa jornada, mais tempo de vida emocionalmente saudável teremos!